foto Fabrizio Bensch/Reuters

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O transporte de 123 toneladas de detritos nucleares para o depósito provisório alemão de Gorleben, na Baixa-Saxónia, chegou hoje, terça-feira, ao seu destino após uma viagem de 91 horas, em que foi repetidamente bloqueado por milhares de ambientalistas.
Cerca de 20 mil polícias escoltaram o comboio e, na última parte do trajecto, os camiões com 11 contentores especiais, provenientes da estação de tratamento de La Hague, na França.
A maior operação policial da história da Alemanha não impediu que milhares de ambientalistas perturbassem a marcha do comboio, obrigando-o a mudar de percurso e a parar durante várias horas, sentando-se sobre a via férrea e negando-se a sair dali, até serem afastados pela polícia.
Foram os maiores protestos contra a energia nuclear na Alemanha desde a abertura do depósito provisório de Gorleben e do primeiro transporte de resíduos, em 1995.
No sábado, uma manifestação contra a decisão do executivo de Angela Merkel de prorrogar o prazo de funcionamento das 17 centrais atómicas germânicas, convocado por organizações ambientalistas, uma iniciativa de cidadãos e partidos da oposição, já tinha juntado cerca de 50 mil pessoas, em Dannenerg.
Na madrugada de hoje, a polícia afastou da estrada que liga Dannenberg a Gorleben milhares de manifestantes que já estavam lá sentados há cerca de 44 horas, para que os camiões com o lixo radioactivo tivessem acesso ao depósito provisório.
Entretanto, o ministro federal do Ambiente, Norbert Roettgen, reafirmou que o transporte de resíduos nucleares foi "legal e devidamente autorizado", criticando as acções de protesto.
O político democrata cristão esclareceu ainda que os custos do transporte, que devido aos protestos subiram em flecha e foram já avaliados por especialistas em 20 milhões de euros, serão suportados pelo Estado e não pelas companhias energéticas.
A oposição acusa o executivo de centro direita de ter aumentado em um terço os resíduos nucleares a depositar nos próximos anos em Gorleben, com o compromisso que assinou com as energéticas para manter abertas as centrais nucleares, em média, por mais 12 anos.
O Governo, por sua vez, alega que sociais democratas e Verdes, quando estiveram no poder, entre 1998 e 2005, não fizeram nada para resolver a questão do armazenamento definitivo dos detritos nucleares.
A transformação de Gorleben em depósito definitivo, que possa albergar lixo radioactivo em condições de segurança por um prazo de um milhão de anos, ainda está em estudo.
Os ambientalistas receiam que o Governo queira tornar Gorleben um depósito definitivo sem ter em conta outras alternativas.
Os 110 contentores especiais com detritos nucleares que estão entretanto em Gorleben são mantidos à superfície e, por motivos técnicos, só podem ser soterrados dentro de 20 ou 30 anos, se na altura já existir um depósito definitivo.
A nível mundial, ainda não existe qualquer depósito deste género.
A partir de 2005, as centrais nucleares alemãs passaram a guardar os seus próprios resíduos, que deixaram assim de ser transportados pata tratamento em La Hague, e aguardam uma solução definitiva.

jn