A Polícia do Rio de Janeiro ocupou ontem, quinta-feira, a favela Vila Cruzeiro e expulsou os traficantes com os quais se defronta violentamente desde domingo. A operação, apoiada por blindados da Marinha, forçou os criminosos a fugir para o Complexo do Alemão. "Tiramos deles o que nunca foi tirado, o seu território', afirmou secretário de Segurança do Rio.

foto TV Globo/Reuters

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Traficantes fogem de Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão sob pressão da Polícia

Cerca de 200 elementos das forças especiais da Polícia apoiados por Fuzileiros demoraram cerca de cinco horas a ocupar a favela de Vila Cruzeiro e forçar os traficantes que dominavam a zona a fugir. No quinto dia de confrontos entre as autoridades e os grupos de traficantes já eram contabilizados pelo menos 30 mortos, 180 detenções e perto de 60 veículos incendiados.
"Hoje, Vila Cruzeiro pertence ao Estado", felicitou-se o secretário da Segurança Pública, José Mariano Beltrame, apesar da Polícia se manter em alerta e de estarem previstas novas acções policiais durante o dia de hoje, sexta-feira.
A ocupação de Vila Cruzeiro é, de facto, um marco para a Polícia do Rio de Janeiro, já que as autoridades não chegavam há alguns anos ao alto da favela. "Tirou-se dessas pessoas o que nunca foi tirado, que é o seu território. Tirou-se dessas pessoas o que eles chamavam e consideravam porto seguro. Faziam as suas barbaridades e corriam covardemente para o seu reduto protegido por armas de guerra", afirmou secretário de Segurança.

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Blindados da Marinha apoiaram a acção da Polícia

Acossados pela ofensiva policial, dezenas de traficantes fugiram de Vila Cruzeiro em direcção ao Complexo do Alemão. Ao final da tarde, a Polícia disse ter ocupado o alto de Vila Cruzeiro e, mais tarde, ter já chegado ao Complexo do Alemão. De acordo com informações da Polícia, as operações iam continuar durante a noite com helicópteros que utilizam sistemas de visão nocturna.
Quinto dia de violência
O Rio de Janeiro viveu ontem, quinta-feira, o quinto dia de violência entre autoridades e traficantes. Vários carros, autocarros e camiões foram incendiados e um dispositivo da Polícia Militar foi alvo de tiros, levando o pânico a várias partes da cidade.
Sete escolas, uma creche e grande parte do comércio local fecharam as portas. E, até agora, são apontadas 30 vítimas mortais. Só ontem foram queimados 14 veículos.
Em reacção ao ataques, e a pedido do governador Sérgio Cabral do Ministério da Justiça, a Polícia redobrou o patrulhamento nas ruas com 1200 agentes e iniciou operações simultâneas em 15 favelas, na Vila Cruzeiro, no bairro da Penha.
A acção da Polícia foi liderada pelo Batalhão de Operações Especiais, apoiada por 150 homens, 80 Fuzileiros Navais e por 13 blindados da Marinha, que cedeu também armas, munições e óculos de visão nocturna. Isto faz a população acreditar que o conflito está "perto do fim". "Esta operação não é de entrada ou saída. Vamos dominar e prender os criminosos", prometeu o coronel da Polícia Militar, Álvaro Garcia, descartando, no entanto, o uso de metralhadoras. "Estamos numa guerra, mas não a esse nível", avaliou.
Ao JN, Rosa Maria Ramos, que vive perto daquele bairro, afirmou que "o Rio está a viver uma loucura há vários dias", que "basta ir à janela para ver pessoas de hora a hora pegando fogo aos carros e para ouvir rajadas de tiros".
Mas que agora, "do jeito que a polícia está enfrentando os criminosos, a guerra vai acabar". A brasileira conta que "não há condições para andar na rua" e que, mesmo dentro de casa, as pessoas estão aterrorizadas. "Ontem, uma menina estava jogando computador na sua casa, ao lado da janela, veio uma bala perdida e a matou", lamenta.
Há ainda informações que dão conta de que um jovem, de 21 anos, também foi atingido por uma bala perdida, perto de Vila Cruzeiro, ao início da tarde de ontem. De acordo com fontes hospitalares, o rapaz terá sido alvejado na nádega.
Apesar disso, acrescenta, "as pessoas foram aconselhadas a fazer a sua vida normal, porque quanto mais confusão e boatos houver, melhor para os criminosos. É isso que eles querem", diz.
Fontes da Secretaria de Segurança confirmam esta teoria: os suspeitos querem apavorar a população e causar uma sensação de insegurança na cidade, que será o palco principal do Mundial de 2014 e a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

jn