Para muitos, José Mourinho desceu à terra. É de carne e osso como qualquer um. Sofreu a maior humilhação da carreira, o Real Madrid perdeu por 5-0 diante do Barcelona. No Camp Nou. No mesmo estádio onde o técnico festejou a passagem à final da Champions.
Jorge Valdano, director-desportivo do Real Madrid, diz que os treinadores da actualidade preferem 11 soldados a outros tantos poetas. Sentem-se mais confortáveis quando têm músculo, em vez de inspiração. Mas o futebol contradi-lo. O futebol parece ser um jogo imprevisível, as equipas transcendem-se e os grandes duelos passaram a ser desequilibrados. Primeiro foi o F. C. Porto a espetar cinco ao Benfica, agora foi a vez do Barça abrir a mão em direcção aos merengues. E com a mão bem, bem aberta.
No choque táctico entre os treinadores da moda do futebol mundial, Pep Guardiola levou a melhor sobre Mourinho. E em todos os aspectos. O futebol sedutor, o espectáculo que os poetas oferecem ao jogo continua a ter mais peso do que o pragmatismo. O treinador do Barça disse que não ia alterar a sua filosofia. E não a alterou. Se a tivesse modificado, se calhar, não teria vencido por cinco golos.
É que a virtude dos catalães é o meio-campo, a forma como trocam a bola, como a esconde dos adversários. E como os engana. Ontem, o miolo do Barcelona foi tão determinante que o Real Madrid andou sempre à deriva. Sem bola, foi uma caricatura. Incapaz de fazer as celébres transições rápidas. E com uma defesa subida foi sopa no mel para o ataque blaugrana, a explorar as bolas longas e os erros do sector recuado do adversário. Na primeira parte, o Barça já vencia por 2-0, no segundo tempo marcou três golos. Um bis de Villa, um de Pedro e outro de Jeffren e dois passes fatais de Messi, que ganhou o duelo a Ronaldo.
Mas o jogo teve de tudo. Não só golos como emoção. Como também muitos nervos à flor da pele. Com Sergio Ramos a ser expulso, com Ricardo Carvalho a acertar em Messi com o braço e com Ronaldo a empurrar Guardiola. A primeira derrota do Real Madrid no campeonato foi estrondosa.
O título espanhol ainda não está entregue, mas o Real Madrid perdeu a liderança para o Barça. Aliás, Mourinho dizia que, se ganhasse, hoje seria terça-feira. E se perdesse também seria terça-feira. Mas não é uma terça-feira normal...
jn