Cerca de 600 crianças foram operadas ao coração no ano passado em Portugal, 40 anos depois de o primeiro serviço da especialidade de cardiologia pediátrica ter sido criado no país, no Hospital de Santa Marta.

Segundo dados do Comissariado para as doenças cardiovasculares, facultados à agência Lusa, em 2009 foram realizadas em Portugal 641 cirurgias de cardiopatias congénitas (anomalias no coração que ocorrem durante a formação do feto) pediátricas.

O serviço de cardiologia pediátrica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, foi o primeiro serviço desta especialidade criado no país, em 1969.

"É uma especialidade médica relativamente recente no nosso país e em todo o mundo, que se foi desenvolvendo ao longo dos anos e foi trazida para Portugal pela professora Fernanda Sampayo, que fez o seu treino nos Estados Unidos", disse a directora do serviço de cardiologia pediátrica do Hospital de Santa Marta, Fátima Pinto.

No âmbito do 40º. aniversário da primeira consulta da especialidade, decorre amanhã, sexta-feira, e sábado no Estoril um simpósio que irá reunir especialistas portugueses e estrangeiros em torno de vários temas ligados à cardiologia pediátrica.

"É também uma maneira de comemorarmos um aspecto muito importante que o serviço tem tido ao longo destes anos, que é do ensino da especialidade de desenvolvimento científico e de investigação no país", disse Fátima Pinto.

Nos dois dias de simpósio, serão discutidos temas como o ensino da especialidade, a inovação, a organização ou os aspetos psicossociais e psicológicos que acompanham a evolução, a vida, destes doentes.

"Estamos permanentemente à espera de qualquer tecnologia nova, qualquer fármaco novo que permita melhorar a existência destas crianças e a qualidade de vida que lhes podemos dar [aos pacientes]. Um dos problemas que se põe hoje em dia é qual é a melhor forma, ou quais são as maneiras mais eficazes, de nós podermos implementar estas inovações que são economicamente muito elevadas num mundo que tem problemas como nós temos atualmente", afirmou a especialista.

Assuntos mais ligados com tecnologia de ponta serão também abordados.

"É possível fazer-se o diagnóstico pré-natal das cardiopatias congénitas, a partir das 16/17 semanas de gravidez, através de uma tecnologia que se chama ecocardiografia fetal. A tecnologia avançou tanto que em alguns, muito poucos, centros em todo o mundo, existem também intervenções cardíacas feitas ao feto", contou.

Em Portugal, este tipo de intervenção ainda não pode ser oferecido à população.

"Nós temos o know-how e a tecnologia para o podermos fazer, mas não implementámos ainda este tipo de técnicas de uma maneira regular", disse, acrescentando que "apesar de ser uma inovação, ainda não demonstrou que os resultados são significativamente melhores, de uma maneira geral, do que o tratamento depois de o bebé nascer".

No simpósio, serão também discutidos aspectos do tratamento cirúrgico e do tratamento por cateterismo, bem como aspectos dos doentes adultos com cardiopatia congénita, como tratar e acompanhar as complicações que surgem na vida adulta que foram tratadas na idade pediátrica.

"jn"