São os confrontos mais violentos em muitos anos em Moçambique. A situação acalmou, mas o principal partido da oposição, a Renamo, acusa a polícia de ter usado balas reais contra os manifestantes e exige a demissão do ministro do Interior.
Os distúrbios
começaram logo de madrugada, com estradas bloqueadas, apedrejamentos e pneus a arder, e foram-se aproximando do centro da cidade. O cônsul português pediu
«resguardo» aos cidadãos nacionais que se encontrem na cidade.
À fúria dos manifestantes, que protestam contra o aumento dos preços da água, da luz e de outros bens como a gasolina, juntou-se a reacção violenta da polícia: pelo menos
duas crianças foram mortas.
Segundo comunicado oficial da Polícia da República de Moçambique quatro pessoas morreram, 27 ficaram feridas (dois agentes policiais) e 142 cidadãos foram detidos. Em conferência de imprensa, o porta-voz Pedro Cossa revelou que duas viaturas foram queimadas, sendo uma da Electricidade de Moçambique e uma particular, um posto de abastecimento de combustível foi queimado e quatro postos de energia foram derrubados. Registou-se, ainda, o saque de três vagões de milho na zona da Matola Gare, 32 estabelecimentos foram vandalizados, seis autocarros dos Transportes Públicos de Maputo foram vandalizados.
Durante algumas horas, a Escola Portuguesa de Moçambique esteve
cercada pela polícia, conforme adiantou ao
tvi24.pt a directora Dina Trigo Mira.
Um
avião da TAP chegou a estar retido , porque a tripulação não conseguia deslocar-se para o aeroporto.
Ao longo do dia foram surgindo
vários relatos através das redes sociais e telemóveis, com apelo a novas manifestações. Segundo o jornal «A Verdade», nas ruas registaram-se cânticos contra o Presidente da República: «Morte ao Guebuza».
Armando Guebuza falou à nação ao final da tarde, apelando à serenidade dos moçambicanos. Na sua opinião, trata-se de uma «agitação social que só contribui para o atraso do desenvolvimento do país». Prometeu restabelecer a ordem e tranquilidade públicas e disse que a solução dos problemas da nação está no «aumento da produção e produtividade». «A destruição de bens atenta contra aquilo que leva a pobreza, que é o nosso principal desafio», alertou, citado pelo jornal «O País».
«Cidade deserta» O
testemunho de uma portuguesa a residir actualmente em Maputo descreve-nos uma «cidade deserta», com «colunas de fumo» que se vêem a vários quilómetros de distância.
«Havia boatos de que ia haver uma greve, uma manifestação não autorizada. Toda a gente foi trabalhar só que entretanto começou a haver distúrbios nos arredores e achou-se melhor parar de trabalhar. As pessoas comentavam que seria pior se se furasse a greve, podia haver retaliações», contou Marta Botelho ao
tvi24.pt.
A engenheira civil de 25 anos, que mora no centro da cidade, juntamente com muitos outros portugueses, relatou que os estabelecimentos comerciais estão todos fechados «para não haver confusão». «Diz-se que a confusão se está a aproximar daqui...», afirmou.
A portuguesa adiantou que o aumento dos bens primários e dos combustíveis foi «muito grande», tendo chegado aos 25 por cento no caso da gasolina.
"sic"