Milhares de habitantes do Marco de Canaveses consomem, diariamente, água inquinada. A Câmara admite que há uma situação problemática em seis freguesias. A rede pública de abastecimento é insuficiente e usa-se água de poços, sem qualidade.
O problema afectará cerca de 10 mil pessoas espalhadas pelo concelho, ou seja, o equivalente ao número total de moradores da cidade do Marco de Canaveses.
As redes de abastecimento de água e de tratamento de esgotos no concelho não chegam sequer a metade da população. A distribuição de água andará pelos 40% e o saneamento chegará, apenas, a 30% dos residentes.
E o facto é que a situação deverá arrastar-se por tempo indeterminado, por causa do diferendo existente quanto à concessão das redes de água e de saneamento à empresa Águas do Marco.
O caso seguiu para os tribunais e a concessão encontra-se em gestão corrente. Não há investimentos de fundo.
As freguesias de Vila Boa de Quires, Maureles, Toutosa, Santo Isidoro, Torrão e Várzea do Douro "registam as situações mais problemáticas no domínio ambiental", refere o vereador do Ambiente da Câmara do Marco de Canaveses, José Mota.
Com o crescimento populacional, os solos já não têm capacidade para se renovarem face às elevadas descargas de esgotos e os lençóis freáticos estão contaminados. Como não há rede pública, os moradores consomem água que retiram dos poços particulares e que está inquinada.
"Conheço o caso de um poço onde a água tem detergentes. Nem fervida pode ser usada", confirma o presidente da Junta do Torrão, Manuel Lopes. O autarca fala em "problema grave de saúde pública" na freguesia. "Por já se passar há tantos anos passou a ser uma banalidade, o que agrava ainda mais as coisas", refere.
A freguesia do Torrão, com cerca de mil habitantes, está assente num bloco granítico. Com vista privilegiada para a foz do Tâmega e rio Douro, a localidade debate-se com o problema dos esgotos que desaguam directamente nos dois rios.
"Na freguesia há uma mão cheia de locais onde são feitas descargas a céu aberto durante a noite. É aquilo a que nós chamamos o 'desenrasca'. Com as promessas constantes de que 'agora vem o saneamento' as pessoas não melhoram as suas fossas. E aqueles que construíram casas novas não as fizeram como devia ser", explica Manuel Lopes.
Rua Santo António, Lugar Praia, Cruzeiro e envolvente da ponte Duarte Pacheco são as zonas do Torrão mais problemáticas
"jn".