Desde o dia 1, a Tabaqueira exige aos seus distribuidores que utilizem um único cheque para liquidar cada factura. A regra imposta é impossível de cumprir para muitas PME. Pelo menos 40 ficaram, ontem, sem poder fornecer tabaco a cerca de 30 mil clientes.

Pelo menos quatro dezenas de empresas grossistas/armazenistas de tabaco estão, desde anteontem, sem produto para entregar aos seus cerca de 30 mil clientes do retalho (cafés, tabacarias, restaurantes), sobretudo no Norte, e correm o risco de falir, deixando no desemprego 400 trabalhadores num universo de 2000, distribuídos por cerca de 180 PME.

Para além dos constrangimentos resultantes de um emagrecimento das margens, os grossistas foram confrontados, desde o dia 1, com novas condições gerais de fornecimento, impostas unilateralmente pela Tabaqueira, que obrigam os distribuidores a utilizar um único meio de pagamento para liquidar uma factura ou conjunto de facturas que se vençam no mesmo dia.

"Os clientes dos distribuidores são retalhistas que pagam com cheques dos mais diversos bancos. A forma mais segura de aceitar estes cheques é ter conta nos mesmos bancos dos retalhistas, por forma a obter rapidamente o dinheiro e até verificar se têm cobertura. Se não fosse assim, os distribuidores deixariam de pagar pontualmente (no dia seguinte a receber a mercadoria) à própria Tabaqueira", explica Helena Baptista, presidente da Associação Portuguesa de Armazenistas de Tabaco (APAT).

Segundo fonte oficial da empresa, as novas condições, em vigor desde dia 1, têm um dispositivo que "exclui pagamentos múltiplos de uma factura ou conjunto de facturas, e decorre directamente daquilo que dispõe o acordo celebrado em Julho de 2004 entre a União Europeia e a Philip Morris, de que a Tabaqueira é uma subsidiária, no domínio da luta contra o comércio ilícito de cigarros".

A APAT não entende a relação directa entre os pagamentos múltiplos (vários cheques para liquidar uma factura) e o comércio ilícito de cigarros. Igualmente estupefacto ficou Carlos Duarte, presidente da Associação Nacional de Grossistas de Tabaco. "É com muita dificuldade que tentamos cumprir a regra do cheque único. Temos uma multinacional a imiscuir-se na contabilidade dos seus clientes.

No dia 1 deste mês, a empresa Fenense de Tabacos recebeu um quadro da Tabaqueira que ameaçou cortar os fornecimentos caso se mantivessem os pagamentos múltiplos, só podendo retomar a relação através de pagamentos antecipados. Esse quadro alegou que o Governo apoiava esta forma de pagamento, episódio que motivou uma pergunta do PCP ao Ministério da Economia. A AdC, contactada pelo JN, prefere não se pronunciar em concreto sobre os últimos desenvolvimentos, mas revela que houve queixas em 2009 que ainda estão a ser investigadas.

"jn"


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