Um indívíduo que, durante 16 anos, viveu em montes e grutas de Vieira do Minho em fuga à prisão e ficou conhecido como "homem das cavernas", vai ser em breve julgado porque, quando foi detido, estava com uma pistola. Arma com que matava animais para comer.

Manuel Cruz, 55 anos, pastor, voltou à cadeia de Paços de Ferreira, em Julho do ano passado, de onde fugiu, em 1993, após cumprir três anos de uma pena de dez anos, por homicídio, à paulada, de uma pastora de cabras com quem se desentendeu.
Segundo a sua versão, fugiu da prisão por ter medo de ser violado pelos restantes reclusos e, desde então, viveu sob protecção da população de Anissó, Vieira do Minho - que lhe cedia alguns mantimentos -, até ao dia em que PJ de Braga localizou-o e deteve-o.

Nessa ocasião, Manuel Cruz estava na posse de uma pistola ilegal transformada, de calibre 6,35 milímetros, o que lhe valeu, agora, uma acusação do Ministério Público de Vieira do Minho por posse ilegal de arma - um ilícito punível com prisão entre um a cinco anos ou multa até 600 dias.

Mas por que razão, apesar do isolamento quase total, o pastor e "homem das cavernas" andava munido de arma? "Para matar animais. Para ter o que comer", assegura, ao JN, o seu advogado.

Vítor Lima Ferreira sustenta nunca ter passado pela mente de Manuel Cruz a ideia de cometer crimes com a arma - mantida com ajuda da população local - e que "não era exigível" ao indivíduo que tentasse matar animais com as suas próprias mãos, a fim de obter o seu sustento. Esta versão dos factos, acredita o defensor, constituirá causa de justificação da conduta do arguido e pode levar à sua absolvição, no julgamento que deverá iniciar-se em breve.

Recurso pendente no Supremo

O "homem das cavernas" aguarda, entretanto, que o Supremo Tribunal de Justiça decida um recurso extraordinário de revisão de sentença, destinado a repetir o julgamento do qual saiu condenado a 10 anos de prisão, com a audição de uma nova testemunha.

O arguido conta que, por força do alarido público do caso, surgiu uma mulher que garante ter presenciado o crime. Esta sustentará que viu o arguido ser agredido pela vítima e que esta, tentando evitar ser agredida pela vara do pastor, desequilibrou-se, batendo com a cabeça numa pedra. Esta versão, alega, será compatível com o exame médico-legal. Além disso, a mesma testemunha garante que o irmão da vítima não estava no local.

"jn"