"Se fosse hoje faria o mesmo". Domingos Guedes, proprietário de um café de Celorico de Basto, que anteontem perseguiu, com tiros à mistura, dois falsos agentes da ASAE, diz-se orgulhoso do que fez. E tem a solidariedade dos seus conterrâneos.
"Não estou nada arrependido. Já tinha sido assaltado e qualquer dia não ganho para os assaltos", afirmou Domingos Guedes, já atrás do balcão do café de que é proprietário na freguesia de S. Bartolomeu do Rego. Aquela terça-feira não mais lhe sairá da memória, pois protagonizou uma perseguição automóvel digna de filme policial.
A alta velocidade, com ultrapassagens no limite e tiros pelo meio, acabaria por travar já em Fafe, os falsos agentes da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) que tinham tentado enganar a sua esposa momentos antes.
"A única coisa de que tive medo foi de colocar em risco outras pessoas que nada tinham a ver com isto mas não tenho medo de ser acusado de nenhum crime. Só não faço o mesmo para a próxima se não puder", garantiu.
Recordando a alucinante manhã, Domingos Guedes diz que já tinha desconfiado dos dois homens e, enquanto a mulher lhes foi pedir o recibo, a um café que dista cerca de um quilómetro, foi a casa buscar a caçadeira. "Quando eles vêm para cá já está o meu colega do outro café na perseguição e eu pensei que a minha mulher ia com os gatunos no carro". Foi também no seu encalço.
"No entroncamento com a EN 206, quando viravam à esquerda, disparei e atingi o carro", assume, garantindo que foi o único tiro que atingiu a viatura dos fugitivos. "Foi um tiro de zagalote e daí as diversas marcas dos chumbos", explica. Convencido de que actuou bem e em legítima defesa, Domingos confessa que não tinha intenção de matar os burlões.
"Só queríamos que parassem. Se fosse para matar nem saiam da freguesia, eram logo arrumados", disse ao JN. Para já, a única punição que teve Domingos foi a apreensão da caçadeira. "A arma estava legal mas ficou apreendida. Estamos num sítio isolado e quero a arma de volta, senão compro outra", afiança.
Durante o dia de ontem, o comerciante recebeu algumas chamadas telefónicas e votos pessoais de congratulações. No café, os clientes iam comentando e elogiando a bravura de Domingos. "Foi um acto de coragem e não acho justo que seja penalizado. Os burlões é que deviam ser punidos mas estão em liberdade", comentou Fernando Cunha.
jn
"Só tive medo de colocar outros em risco
