"O amor é louco, é cego, é doente", afirmou, ontem, Mário Pessoa, que, há um ano, em Montemor-o-Velho, matou mulher e um militar da GNR. Também feriu a filha e outro GNR, mas ontem, no arranque do seu julgamento, afirmou que o seu objectivo inicial era suicidar-se.

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O arguido prestou declarações durante mais de três horas, chorando várias vezes. "Pequei 10, 15, 20 minutos, quero pedir perdão. Nunca vou conseguir emendar o mal que fiz, mas não passava pela minha cabeça matar", afirmou. Na assistência, também houve muito choro, sem incidentes.
Mário Pessoa, 42 anos, responde por 11 crimes: dois de homicídio consumado e dois tentados, detenção de arma proibida e condução perigosa, entre outros, por factos de Novembro de 2009. "Tanta mentira escrita sobre mim que está aí", reagiu, após a leitura da acusação.
Segundo este despacho, Mário Pessoa agredia frequentemente a mulher, Manuela Costa, 35 anos. Já o arguido sustentou que "só" o fizera duas vezes, muito antes da morte dela, embora a relação de ambos viesse piorando. "Andava a levar-me à loucura", afirmou, referindo que a mulher falara-lhe em ir trabalhar para um bar de alterne.
"Desconfiava dela, já tinha vergonha perante a sociedade. Sentia-me amargurado, confuso, traído". Mas não exteriorizava isso e dava-se bem com a mulher, garantiu. "Não havia rancor nem ódio. No fundo de tudo, nós amávamo-nos".
Na fatídica noite, o arguido fechara o seu bar e não fora para a sua casa, na Carapinheira (Montemor), mas para aquela que pertencera aos sogros, em Porto Luzio, onde a mulher e os dois filhos dormiam. A acusação diz que ele foi ali para ter relações sexuais, mas Mário alegou que ia "todo roto" e foi a mulher quem tomou a iniciativa. Alegou então que ela gritou e ele, receando que os filhos acordassem, pôs-lhe a mão na boca, sendo mordido. Admitiu ter magoado a mulher na boca, mas não que a tenha agredido.
Mário disse que adormeceu e, pouco depois, foi acordado pelo filho: "A mãe foi fazer queixa de ti para te prenderem". O pai levantou-se e tentou matar-se com uma faca, mas faltou-lhe coragem, alegou, acrescentando ter ido então a casa buscar uma caçadeira, para se matar com um tiro em frente da mulher.
Manuela arrancava da GNR de Montemor, numa ambulância, em direcção ao Hospital da Figueira, para atestarem as agressões que sofrera, quando Mário ali chegou. Tanto perseguiu a ambulância que esta regressou à GNR. Ali, Mário saiu do seu carro e, sem reacção dos guardas no exterior, abriu a porta da ambulância e, em vez de se suicidar, disparou quatro tiros contra Manuela. "Pronto, já está!", terá dito.
A mulher tinha ao colo a filha de ambos, de 6 anos, mas Mário diz que não a viu. A criança foi atingida por 32 chumbos.
Sem ser revistado, o arguido foi levado para uma cela da GNR, onde pegou num revólver para se matar, alegou. Mas foi agarrado e, na contenda, disparou dois tiros, que feriram um militar e mataram outro. Mário Pessoa defendeu, ontem, que esses disparos foram acidentais

jn