Dois portugueses e dois galegos, começam hoje, segunda-feira, a ser julgados, em Valença, pelo sequestro e desaparecimento, há 11 anos, de Guillermo Collarte, um empresário galego. "Mais do que justiça", a família da vítima, quer que se faça luz sobre o destino do empresário.

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"Tenho colocadas todas as minhas esperanças neste julgamento. Espero ter forças para chegar ao fim. Não quero vinganças, nem ódios , nem nada, só quero saber do meu pai e nada mais", desabafou ao JN, Berta Collarte, filha do empresário, acusando algum nervosismo.
"Mais do que ver as pessoas na prisão, espero que tenham a bondade de dizer-me onde está o meu pai. Peço a Deus que, se realmente as pessoas que se vão sentar agora no banco do tribunal forem as que levaram o meu pai, como parece pelo que as investigações determinaram, que abram o coração e me digam simplesmente onde ele está para ver se eu e a minha família podemos, finalmente, alcançar a paz", sublinhou.
Guillermo Collarte desapareceu no dia 5 de Outubro de 1999, em Valença, onde se deslocara na companhia de dois sócios espanhóis para, juntamente com um outro sócio português, visitarem uma obra. José Lopes Rodrigues, na altura vereador do CDS na autarquia local e alegado representante de negócios do empresário galego em Portugal, terá sido uma das últimas pessoas a vê-lo.
O Ministério Público (MP) de Valença aponta-o como mentor do sequestro e desaparecimento de Collarte, juntamente com os sócios espanhóis - Gerardo Torres e Luís Sanchez la Bandeira. Um quarto arguido, o português Victor Pereira Barreto, é acusado de ter executado o sequestro.
Segundo a acusação, Collarte, cujo estado de saúde era "muito delicado" à época, o que o impedia de se deslocar sozinho, reuniu-se com os sócios no edifício do mercado municipal de Valença, que estava em construção.
Depois, terá sido levado para um terreno do antigo Hotel Valenciano, próximo da estação de comboios, juntamente com Lopes Rodrigues. Este último, alegando que iria buscar uns papéis, terá deixado Collarte sozinho, aparecendo então o indivíduo contratado para o raptar, que o meteu na mala do carro e o levou para parte incerta, desconhecendo-se até hoje o destino do empresário.
Em Fevereiro de 2008 foram feitas buscas em Valença, pois suspeitava-se que o corpo do empresário tinha sido atirado para um poço, mas nada foi encontrado. Collarte já tinha sido vítima de um sequestro na Galiza.
Dois condenados por ameaças
José Rodrigues e Vitor Barreto foram condenados, em segunda instância, em 16 de Julho deste ano, pelo Tribunal de Ourense a três anos e oito meses de prisão por ameaças de morte continuadas, entre Junho de 2002 e Março de 2003, à filha do empresário galego.
A justiça espanhola deu como provado que Rodrigues foi o mandante e Barreto o executante de várias chamadas telefónicas intimidatórias a Berta Collarte, exigindo-lhe elevadas quantias em dinheiro sob pena de "haver mortes" e de lhe "acontecer o mesmo que ao pai". Um terceiro indivíduo, João Mateus, foi condenado a 16 meses de prisão como cúmplice. Mateus deverá testemunhar no julgamento que hoje começa.
Ao que o JN apurou, o antigo vereador e presidente da concelhia de Valença do CDS, José Lopes Rodrigues, encontrar-se-á actualmente gravemente doente, ao ponto de hoje poder não comparecer em tribunal. Satisfeita com o desfecho que a justiça espanhola deu ao caso das ameaças, Berta Collarte diz esperar agora "que a sentença de Espanha ajude à justiça portuguesa a esclarecer o final da história".

jn