Os seis autores do sequestro e tortura de um empresário da zona de Coimbra foram todos presos, anunciou, ontem, a PJ. A vítima, que esteve em cativeiro quatro dias, seria um dos líderes de um esquema de empréstimos em pirâmide, "tipo Dona Branca".
O sequestro foi executado com violência para levar a vítima a entregar 20 milhões de euros, a 6 de Agosto de 2009. Terminou quatro dias depois, num balcão do BES, em Coimbra, mas os três homens que o executaram só seriam detidos no último Verão, na operação policial que anulou o "gangue do Intermarché".
Já os três "mandantes" do sequestro, como os identifica a Directoria do Centro da Policia Judiciária, foram detidos na última quinta-feira.
A vítima, de 31 anos, é sócio de uma empresa de limpezas de imóveis, sedeada em Lisboa, e morava num condomínio fechado de Condeixa-a-Nova. Segundo fonte policial, também era líder de uma organização ilegal que emprestava dinheiro, a juros muito altos. Esta usava um esquema piramidal, financiando-se junto de pessoas a quem prometia pagar o triplo.
Dois dos "mandantes" do sequestro, um deles com antecedentes por crimes de moeda falsa, emprestaram cerca de cinco mil euros à vítima e não receberam o acordado. Mas circulou, "no meio criminal", que a vítima tinha 20 milhões na sua posse. E, mais do que recuperar cinco mil, os sequestradores queriam os milhões.
Aqueles dois arguidos ainda contrataram seguranças da noite lisboeta, mas estes não localizaram o jovem empresário. É então que entra em cena uma mulher (também detida), como intermediária dos mandantes e dos homens do gangue do Intermarché.
Aquela mulher acaba por envolver-se também na organização do sequestro, que sucedeu numa quinta-feira, quando o empresário chegou a casa e estacionou o seu Mercedes. Os atacantes dominaram-no de forma violenta e levaram-no para uma oficina de automóveis, na Lousã, mantendo-o sempre de olhos vendados. Ele insistia não ter os 20 milhões, mas os outros não acreditavam e sujeitaram-no a actos de tortura, apertando-lhe, por exemplo, as unhas com um alicate. No domingo, a vítima decidiu dizer-lhes que, afinal, tinha o dinheiro, em numerário, mas num cofre do BES, na baixa de Coimbra.
Na segunda-feira, o empresário foi obrigado a tomar banho, para ir ao banco resgatar os milhões. Na viagem, puseram-lhe óculos de lentes opacas e, ao deixarem-no à porta do BES, esperavam que o medo o impedisse de denunciar a sua situação. Enganaram-se.
Já no banco, a vítima disse ao gerente que estava sob sequestro e ele chamou a PSP. Os sequestradores fugiram e a PJ assumiu a investigação. A sua detenção, segundo fonte policial, não ocorreu antes para não perturbar a investigação do caso Intermarché, que causava alarme social. Um dos sequestradores, líder deste gangue, é natural de Viseu; os outros são de nacionalidade espanhola e cabo-verdiana. Todos cadastrados, sobretudo por assaltos.
A detenção dos mandantes, das zonas de Lisboa, Pombal e Águeda, demorou mais, mas o juiz que os ouviu, na última sexta-feira, concluiu que as provas recolhidas eram suficientes para os colocar em prisão preventiva
jn