Na rua, elogiava-se nova bravura do ourives da principal artéria comercial da Trofa. Ele, fala em "sangue-frio" e "coragem". Simples e calmo – pelo menos, aparentemente -, após ter-se fechado 20 minutos com ladrões na loja, até chegar a GNR, para evitar o roubo.
Há cinco anos, o comerciante, que preferiu não se identificar, enfrentou dois assaltantes armados e acabou no meio do chão, agredido e amarrado, boca e nariz selados com fita adesiva.
Ontem, sexta-feira, ao aperceber-se de que estava a ser roubado, fechou-se com os dois ladrões na ourivesaria, ligou à irmã a dizer que estava a ser assaltado e, dentro de um escritório, esperou pela Polícia, enquanto vigiava os ladrões através da videovigilância que, aliás, denunciou os intentos dos mesmos.
Entretanto, os dois indivíduos, oriundos de países de Leste, gritavam-lhe que abrisse as grades, chegando a garantir-lhe que tinham uma arma e que disparariam. “A única coisa que havia entre mim e eles era uma porta de vidro. Se estivessem armados, não sei…”, conta o ourives da Memórias d’ Ouro, na movimentada Rua Conde de S. Bento.
Eram 17.08 horas quando os imigrantes, da Rússia e Ucrânia, com 31 e 37 anos, lhe pediram que trocasse a pilha de um relógio. “Mal virei costas, viraram-se para a estante. Mas eu a câmara, e vi que um deles começou a tirar coisas”. Não hesitou: agarrou no comando e baixou as grades da loja.
Cá fora, comentava-se que o ourives teve “sorte”. “Os assaltantes nunca tentaram transpor o balcão da loja nem arrombar a porta que os separava do comerciante, limitando-se a recolocar no sítio os objectos – na maioria relógios - que já haviam metido num saco.
Quando viram chegar a GNR da Trofa, eles próprios avisaram o ourives. “Disseram-me: ‘Pode abrir a porta, que eles já chegaram’”, relata. Quando os militares entraram para deter os dois homens, verificaram que, além de não estarem armados, não possuíam quaisquer objectos. “Não tendo nada no bolso, é muito melhor”, referiu, ao JN, o comerciante, descrente na detenção dos assaltantes, que hoje, sábdo, serão ouvidos por um juiz. “Ou têm cadastro, ou são postos fora. E, amanhã, o que fizeram aqui vão fazer noutro lado, mas sem cometer o mesmo erro”, vaticina.

"jn"